domingo, agosto 02, 2009

Beja Romana






Arqueologia: Templo romano descoberto em Beja é o maior de Portugal e um dos maiores da Península Ibérica (in Visão)

Beja, 30 Jul (Lusa) - O templo romano do século I d.C. soterrado em Beja, identificado há 70 anos e que tem sido escavado desde que foi descoberto há um ano, é "o maior" de Portugal e "um dos maiores" da Península Ibérica.

Lusa
12:03 Quinta-feira, 30 de Jul de 2009

Beja, 30 Jul (Lusa) - O templo romano do século I d.C. soterrado em Beja, identificado há 70 anos e que tem sido escavado desde que foi descoberto há um ano, é "o maior" de Portugal e "um dos maiores" da Península Ibérica.

"É o maior dos templos romanos já conhecidos em Portugal", como o de Évora e o de Conímbriga, e, "sem dúvida, um dos maiores da Hispânia" (designação da Península Ibérica na época romana), confirmou hoje à agência Lusa a arqueóloga Conceição Lopes.

Trata-se de "um edifício imponente", com 30 metros de comprimento e 19,40 metros de largura, e, tal como os templos romanos de Évora, da província espanhola de Ecija (Sevilha) e de Barcino (Barcelona), é rodeado por um tanque, com 4,5 metros de largura, precisou a arqueóloga.






Templo romano de Beja
é o maior achado no País

Foi encontrado em Beja o maior templo romano em Portugal. O edifício, do século I da nossa era, está “completamente conservado” e é maior do que os templos romanos de Évora e de Conímbriga. Está soterrado no logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo, junto da Praça da República, onde decorrem escavações arqueológicas desde 1997. Responsável pelos trabalhos, a arqueóloga Conceição Lopes fala ao “Diário do Alentejo” das importantes descobertas em Beja.

Texto Carlos Lopes Pereira
Foto José Ferrolho

Foi encontrado em Beja o maior templo romano em Portugal. O edifício, do século I da nossa era, está "completamente conservado" e é maior do que os templos romanos de Évora e de Conímbriga. Está soterrado no logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo, junto da Praça da República, onde decorrem escavações arqueológicas desde 1997. Foram achados também no local outros grandes edifícios do forum - a praça central - de Pax Julia, a Beja romana.
Responsável pelos trabalhos, Conceição Lopes, professora da Universidade de Coimbra e coordenadora científica do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto, fala ao "Diário do Alentejo" das importantes descobertas em Beja.

Qual o ponto da situação quanto a estes trabalhos arqueológicos em Beja?
Esta fase da escavação vem na sequência de outros trabalhos arqueológicos que começaram no logradouro do Conservatório Regional do Baixo Alentejo, junto da Praça da República. As escavações decorrem no quadro de um protocolo entre a Câmara Municipal de Beja e o Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto, no sentido de se verificar exactamente a importância, a dimensão e o estado de conservação dos vestígios da praça central da cidade romana de Beja que encontrámos ali. As escavações começaram em 1997. Nesta fase, os trabalhos duraram cerca de três semanas, em Março e Abril, até à Páscoa, tendo participado comigo uma dezena de estudantes de Arqueologia da Universidade de Coimbra. Voltaremos em finais de Maio ou começos de Junho para prosseguir os trabalhos.

E quanto a resultados?
Neste momento, é possível confirmar que o forum de Beja, em várias fases da época romana, existiu naquele espaço entre a Porta dos Prazeres, a Praça da República, a Rua da Moeda e a Rua dos Escudeiros. É possível confirmar isso. Achámos um dos templos que ali existiu. É um templo muito interessante porque é um tipo específico só da Península Ibérica e sobretudo do Sul, com um tanque a toda a volta. Existe um em Évora e outro em Ecija, perto de Sevilha. São os únicos até agora confirmados com tanques a toda a volta. Este de Beja parece semelhante ao de Ecija e estamos em contacto com os arqueólogos espanhóis para trocar informações. O templo de Beja é muito interessante mas é apenas um dos grandes edifícios que encontrámos na escavação. Há este grande edifício, que é o templo, sem dúvida nenhuma, com uma entrada virada para a Rua da Moeda, o que quer dizer que a cidade se expandia, pelo menos em boa parte, para o lado do Convento da Conceição, o que de alguma forma justifica todos aqueles achados que se conhecem desde o século XVI - era a acrópole da cidade. Mas há mais dois edifícios muito importantes, dois grandes edifícios, que não sabemos ainda exactamente o que são.

Estamos a falar da Pax Julia de que período?
Logo do início, do tempo do imperador Augusto, do século I depois de Cristo.

Já é possível ter uma ideia da dimensão e importância deste templo romano de Beja?
Claro. O templo é muito grande, é maior do que o de Évora. O lado maior tem cerca de trinta e poucos metros de comprimento; o lado menor deve ter à volta dos 21 metros. É um templo muito grande e isso faz sentido porque tratava-se da capital do conventus [circunscrição territorial], da cidade mais importante do Sudoeste peninsular. Pax Julia era uma cidade com estatuto de colónia romana, os cidadãos tinham o mesmo estatuto dos cidadãos de Roma. Era a capital do conventus e, do ponto de vista da Justiça, todos os problemas entre o Tejo e o Algarve resolviam-se aqui, em Pax Julia. Era um espaço de jurisdição muito importante. Faz sentido que a cidade tivesse um grande templo e um grande forum.

Qual era o território da cidade?
O território que pertencia à cidade ia desde Vila Verde de Ficalho, onde está definido um marco, porque existe fines - o fim do território -, até Santa Margarida do Sado no sentido Este-Oeste; no sentido Norte ia até Viana do Alentejo, fazia o percurso da serra de Portel e da serra do Mendro; e a Sul ia até abaixo da Trindade, por alturas da ribeira de Terges e Cobres. O território de Vipasca (Aljustrel) era do ponto de vista económico um couto dependente da capital da província (Mérida), mas do ponto de vista territorial pertencia à cidade de Pax Julia. Este era o território da cidade. Mas o território jurídico era muito maior do que o território da cidade. E a jurisdição, a administração da Justiça, a partir da sede em Beja, era feita grosso modo desde o rio Tejo até ao Oceano.

Há uma ideia da população de Pax Julia nesta época?
Não. Beja, apesar do estatuto que tinha neste período, era uma cidade muito pequena, do ponto de vista físico. O que a cidade tinha de importante é que ela não se fixava apenas no interior das muralhas, ela prolongava-se por todas as vilas adentro. Não sabemos bem quantos habitantes tinha porque muitos deles deviam ter as suas casas por aí fora. Por exemplo, os magistrados da cidade, um vivia na Torre da Cardeira e outro tinha casa na Represas... Mas era uma cidade com uma importância muito grande, com uma vida comercial activíssima, muito parecida a uma cidade do litoral. Havia muitos libertos aqui, que lidavam com o artesanato, o comércio, a indústria, a cidade tinha muita gente e uma vida económica activa. É uma cidade no eixo principal que liga o Sado ao Guadalquivir, ao Guadiana. Tinha uma relação muito estreita com Mértola - como Cláudio Torres disse há muitos anos, de uma forma feliz, "Mértola é o porto de Beja". E é verdade: o porto de Beja está em Mértola. Beja, sendo uma cidade do interior, usufrui de um porto marítimo e isso justifica a população de carácter litorano que encontramos aqui.

Esta importância de Pax Julia mantém-se até quando?
Continua por muito tempo. Desde o século I, eventualmente desde o final do século I antes de Cristo, e continua por aí fora... Se lermos o trabalho que Santiago Macias fez para o período medieval, a cora [divisão territorial] de Beja, em período medieval, basicamente ocupa o mesmo território que Pax Julia. Terá sido com a deslocação do bispado, já depois da Reconquista, que este território se fragmenta.

Voltando ao templo romano de Beja. É o maior templo romano do Sul do País...
Que nós conheçamos, sim, do Sul e do Norte! É maior do que o de Conímbriga. É o maior de todos. Não é o mais bem conservado. Ele está conservado, houve uma grande reciclagem dos materiais da superfície, mas todo o resto está conservado. Está completamente conservado.

Do ponto de vista arqueológico, quais são agora os passos seguintes?
Do ponto de vista metodológico, o que nós vamos fazer, em colaboração com a Câmara Municipal de Beja, é usufruir do facto de aquele terreno estar mais ou menos devoluto até à reconstrução do Departamento Técnico para fazer o máximo possível de escavações e verificar não apenas este templo como um outro grande edifício. Estamos a trabalhar manualmente mas também com a ajuda de meios mecânicos - a câmara tem-nos disponibilizado uma máquina para podermos remover todas as construções do séc. XX que atingem profundidades grandes (cerca de dois metros nalguns pontos). Vamos tentar verificar o máximo possível de vestígios e, a partir dessa verificação e desse registo, fazer as reconstituições possíveis. A metodologia, portanto, é condicionada pelo pouco espaço que temos, porque não se podem destruir casas para pôr a descoberto património - as casas actuais da cidade também são património.

Do ponto de vista da arqueóloga, como é que o património que agora está a ser descoberto pode ser usufruído pelos bejenses e pelos visitantes da cidade?
Entre o desejo e a realidade, os arqueólogos, os investigadores, têm que ser sempre muito ponderados. O meu desejo era dispor daquele terreno para poder fazer investigação, com tempo, poder pôr o templo e outros edifícios à mostra... Mas há uma coisa que eu ensino aos meus alunos, logo no 1.º ano da Universidade: entre a necessidade de permitir que as pessoas, hoje, acedam a boas condições de vida e a preservação do passado, eu não hesito - as pessoas, na actualidade, têm o direito a ter a melhor qualidade de vida possível. Mas essa é uma decisão que passa pelos políticos e não pelos cientistas...

Em síntese...
O meu desejo é de ficar ali com um espaço que poderia ser uma porta aberta para a entrada na acrópole de Beja. O espaço não tem apenas vestígios romanos, tem também as palmeiras, tem as igrejas, tem paredes espectaculares... Este diálogo entre a contemporaneidade e a antiguidade poderia ser muito bem explorado ali, porque temos um espaço aberto. Mas eu não tenho o direito de me opor a qualquer outra decisão, sobretudo se me deixarem estudar, que é o que estão a fazer.

Estamos, pois, perante importantíssimos achados arqueológicos sobre o passado de Beja...
Tenho a certeza que sim. E também tenho a certeza de que, pela primeira vez desde que eu trabalho cá em Beja, a cidade, a sua câmara municipal, disponibiliza-se a fazer algum investimento na compreensão do que está ali. Não podemos ser cegos e dizer "vamos preservar, preservar, preservar"; primeiro temos que saber exactamente o que é que lá está. Acho que, pela primeira vez, há um interesse em saber o que é que está ali, justamente porque os vestígios que assomam são muito importantes. Mas aquilo que eu vejo, como arqueóloga, não é necessariamente aquilo que os cidadãos vêem... Eu penso que o que ali está é muito importante, é um grande património que a cidade deveria agarrar. E creio que a câmara municipal está a fazê-lo, com critério, de forma ponderada. 

17/04/2009







2 comentários:

leonel borrela disse...

Julgo que valerá a pena consultar http://forum-romano-de-beja.blogspot.com , http://iconografia-pacense.blogspot.com , http://connistorgis.blogspot.com , entre outros sobre Beja e o Alentejo.
Cumprimentos e obrigado, Leonel Borrela

Anónimo disse...

Um grande abraço do teu ex colega da Universidade, Francisco Moleiro
abraço amigo
FMoleiro
http://porterrasdoalentejo-bruno.blogspot.com/